Sílvio Yassunaga, presidente do Sindiaçougue
Desde o segundo semestre de 2019 vivemos um forte aumento nos preços da carne bovina. Os preços alcançaram reajuste de 66% no período, ditado pelo mercado, pela lei da oferta e procura e aliado ao alto valor do dólar, o que torna as exportações bem mais atrativas e provoca fortes altas no mercado interno. Ou seja, ficou mais atrativo para o pecuarista vender a carne fora do Brasil do que aqui dentro.
Com muitos estudos, tecnologia e investimentos do setor, esta proteína produzida no Brasil elevou de forma significativa sua qualidade e colocou nosso país como um dos maiores produtores mundiais. Isso beneficia também o mercado interno, pois passamos a consumir um produto de alta qualidade. Mas por outro lado, o apetite de países como a China por nossa carne ajuda a puxar o preço para cima.
A encefalopatia espongiforme bovina, nome técnico do mal da vaca louca, nos dá uma dimensão desta dependência do mercado externo. Tivemos recentemente apenas dois casos no Brasil. Exportações foram interrompidas, contratos suspensos e toneladas de carnes esperando para serem embarcadas ou devolvidas aos frigoríficos, que não têm outra opção senão abastecer o mercado interno. Em um primeiro momento isso é bom para diminuir o preço final do produto, mas traz prejuízos incalculáveis para toda a cadeia produtiva que se preparou para vender nossa carne fora do Brasil.
No mercado interno, no mesmo período, vimos nossas vendas no varejo desabarem em mais de 50% e assistimos a mudança de hábito do consumidor, diminuindo a preferência pela carne bovina, para o frango, a carne suína e até o peixe. Enquanto o consumo per capita da carne bovina vinha caindo há vários anos, as outras carnes — frango, suína e peixes — tinham seu consumo em alta, sobretudo nestes dois últimos anos.
Com uma acentuada queda nas vendas no varejo e o problema nas exportações com a doença da vaca louca, a balança do mercado se equilibrou e a procura já não é maior que a oferta. Isso manteve os preços estáveis há mais de dois meses e começa a mostrar uma tendência de queda. Mas precisamos pensar em uma gestão de equilíbrio onde os preços não oscilem tanto e aumentem para nosso consumidor, e que também não desabe por qualquer instabilidade no mercado exterior.
Esperar que o preço da carne abaixe por uma situação atípica e sem sustentabilidade não é bom para ninguém. Traz um alívio em curto prazo, mas ao custo de prejuízo para o produtor, o que não é sadio para toda a cadeia do segmento. Precisamos buscar um equilíbrio sustentável de preços que seja viável para todos os mercados, seja interno ou externo.